|  São Paulo - Encontro presidencial foi elogiado por empresários. 
        Brasil e Argentina avançaram, ontem, em temas que estavam pendentes 
        desde a criação do Mercosul, em 1991: a assinatura de acordos 
        para facilitar atividades empresariais e simplificar a legalização 
        de documentos públicos. Com esse acordo, firmado no primeiro dia 
        da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Argentina, 
        fica eliminada a necessidade de os documentos públicos tramitarem 
        pelos consulados para que adquiram validade no território da outra 
        parte. Isso tem impacto positivo direto na vida das pessoas que circulam 
        entre os dois países e no gasto das empresas. 
 Outro avanço destacado como positivo pelo presidente da Câmara 
        de Comércio Argentino-Brasileira de São Paulo, Alberto Alzueta, 
        é a redução do montante de investimento de US$ 100 
        mil para US$ 50 mil para a obtenção de visto permanente 
        para empresários, medida convergente com a determinação, 
        consagrada no acordo de residência para nacionais do Mercosul, de 
        alcançar a livre circulação de pessoas na região. 
        Ainda na linha de facilitar a vida dos cidadãos, haverá 
        a aprovação do "visto Mercosul" antes do fim do 
        ano, segundo compromisso assumido ontem por Lula e seu colega Néstor 
        Kirchner. Isso simplificará os trâmites administrativos e 
        eliminará restrições ao ingresso e ao trabalho temporário 
        dos nacionais dos países da região que prestam serviços 
        sob contrato.
 
 Lula agradou aos empresários que participaram do seminário 
        "Integração da América do Sul: Desafios e Oportunidades", 
        disse Eloi de Almeida, presidente do Grupo Brasil, que reúne 190 
        empresas brasileiras com operações na Argentina. "Sentimos 
        que o Brasil está realmente apostando na integração."
 
 Do encontro Lula/Kirchner saíram várias mensagens positivas, 
        destaca Félix Peña, especialista em integração 
        e integrante da equipe do ex-presidente Carlos Menem. Um dos sinais claros 
        é a "definição de avanços sobre preferências 
        econômicas entre nossos países" (acesso a financiamentos 
        do BNDES e compromisso de tratamento nacional nas licitações 
        para compras governamentais). Peña diz também que Brasil 
        e Argentina revelaram disposição de negociar a Alca.
 
 (Maria Helena Tachinardi, Claudia Mancini e Eva Rodrigues)
 Novos acordos facilitam negócios São Paulo - Presidentes Lula e Kirchner sinalizaram disposição 
        de negociar a Alca e de fortalecer o Mercosul. Brasil e Argentina, os 
        dois maiores sócios do Mercosul, avançaram, ontem, em temas 
        que estavam pendentes desde a criação do bloco, em 1991: 
        a assinatura de acordos para facilitar atividades empresariais e simplificar 
        a legalização de documentos públicos. Com esse acordo, 
        fica eliminada a necessidade de os documentos públicos tramitarem 
        pelos consulados para que adquiram validade no território da outra 
        parte. Isso tem impacto positivo direto na vida das pessoas que circulam 
        entre os dois países e no gasto das empresas. O resultado é 
        que começa a baixar o custo Mercosul. Outro avanço destacado como positivo pelo presidente da Câmara 
        de Comércio Argentino-Brasileira de São Paulo, Alberto Alzueta, 
        é a redução do montante de investimento de US$ 100 
        mil para US$ 50 mil para a obtenção de visto permanente 
        para empresários, medida convergente com a determinação, 
        consagrada no acordo de residência para nacionais do Mercosul, de 
        alcançar a livre circulação de pessoas na região. 
        Ainda na linha de facilitar a vida dos cidadãos, haverá 
        a aprovação do visto Mercosul antes do fim do ano, segundo 
        compromisso assumido ontem por Lula e Kirchner. Isso simplificará 
        os trâmites administrativos e eliminará restrições 
        ao ingresso e ao trabalho temporário que afetam os nacionais dos 
        países da região que prestam serviços sob contrato. 
        Essa era uma das reclamações da Câmara de Comércio 
        Argentino-Brasileira.
 Embora não tenham chegado a um acordo nesta visita, os dois governos 
        assumiram, ontem, o compromisso de "acelerar e aprofundar no Mercosul 
        e no âmbito bilateral as negociações nas áreas 
        de serviços, compras governamentais e investimentos, as quais deverão 
        garantir um tratamento recíproco e preferencial permanente". 
        Uma fonte do Itamaraty explicou que se "está mais perto da 
        assinatura de um protocolo de compras governamentais porque se estreitaram 
        os entendimentos para a participação de empresas argentinas 
        e brasileiras nas licitações feitas pelos governos de ambos 
        os países".
 
 Do encontro Lula/Kirchner saíram várias mensagens positivas, 
        destaca Félix Peña, especialista em integração 
        e integrante da equipe do ex-presidente Carlos Menem. Um dos sinais claros 
        é a "definição de avanços sobre preferências 
        econômicas entre nossos países" (acesso a financiamentos 
        do BNDES e compromisso de tratamento nacional nas licitações 
        para compras governamentais). Peña cita também que houve 
        um reconhecimento da necessidade de um mecanismo de flexibilização 
        comercial (medidas do tipo salvaguardas) e revelações de 
        que o Brasil e a Argentina estão dispostos a negociar a Área 
        de Livre Comércio das Américas (Alca) e a Rodada de Doha 
        da Organização Mundial do Comércio (OMC).
 
 O encontro presidencial serviu também para dissipar os ruídos 
        de que o relacionamento entre os dois países não ia bem 
        e que ambos estavam contra as negociações internacionais, 
        conforme destacou, em uma de suas edições de setembro, o 
        diário francês Le Figaro. Outro avanço, na opinião 
        de Félix Peña, foi a aprovação pelo Congresso 
        Nacional do Protocolo de Olivos de solução de controvérsias, 
        que dá consistência jurídica e institucional ao Mercosul 
        e faz com que as pendências comerciais no bloco passem a ser resolvidas, 
        no futuro, por um tribunal permanente, sem a necessidade da ingerência 
        dos presidentes dos quatro países. O Senado Federal aprovou o Protocolo 
        de Olivos na noite da última terça-feira.
 
 Os presidentes do Brasil e da Argentina também assinaram acordo 
        que cria a comissão de monitoramento de comércio bilateral 
        e um outro que trata da cooperação em defesa da concorrência 
        e de leis nessa área. Os outros acordos dizem respeito às 
        questões da água e da pobreza. O Consenso de Buenos Aires, 
        um documento de 21 itens, também aprovado ontem, "envia sinais 
        ao mundo e à cidadania com relação às políticas 
        econômicas e sociais" dos dois países, define Peña. 
        Ele não está preocupado com as divergências entre 
        Brasil e Argentina porque são superadas pelas coincidências. 
        Além disso, diz, "existe comunicação sobre as 
        divergências".
 
 Lula disse que os documentos assinados ontem "são a mais viva 
        demonstração da disposição do presidente Kirchner 
        e da minha de dizermos, de uma vez por todas, que os interesses estratégicos 
        dos dois países e o futuro das novas gerações merecem 
        de nós todos qualquer sacrifício para que possamos plantar, 
        hoje, a árvore que dará os frutos que eles comerão 
        num futuro muito próximo". E acrescentou: "Quero dizer 
        ao presidente Kirchner que essa integração de corpo e alma, 
        respeitando a soberania de cada país, é vista por mim como 
        uma das principais coisas que podem acontecer nos meus quatro anos de 
        mandato. Mais feliz eu fico quando sei que não é uma posição 
        pessoal. É uma posição de cada ministro que aqui 
        está".
 
 Kirchner destacou que a relação bilateral "não 
        deverá ser afetada por mesquinharias" e que é hora 
        de fortalecer o multilateralismo e o papel da ONU.
 
 Consenso de Buenos Aires
 O Consenso de Buenos Aires talvez tenha sua importância mais no 
        plano simbólico do que possa trazer de soluções práticas, 
        acredita o analista da LCA Consultores, Fernando Sampaio, segundo relato 
        da repórter Eva Rodrigues.
 "De qualquer forma, são dois governos buscando dar satisfação 
        a um eleitorado que os elegeu justamente por discordar das políticas 
        neoliberais implementadas na última década". Sampaio 
        considera que a aproximação diplomática e comercial 
        entre os dois países é bem-vinda, especialmente porque reforça 
        a posição negociadora em relação à 
        Alca. Ao notar que há hoje uma predisposição mútua, 
        mais homogênea e positiva na direção da integração 
        regional, tanto do governo brasileiro como do argentino, Sampaio volta 
        aos tempos de Carlos Menem.
 
 "Foi uma fase em que a prioridade da Argentina era a proximidade 
        na relação com os EUA, o que seria um obstáculo para 
        uma estratégia como a do governo de Lula".
 
 (Maria Helena Tachinardi)
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